Da vida...

"... modéstia a parte quem nasce na vila aprende mais cedo..."

(Fred Camacho/Jorge Agrião)

TransFormação

De uma hora pra outra as coisas mudam...
Tudo que era já não é mais
Tudo que não era parece transparecer...
E a gente vive nessa mescla
Do ser e do não ser
Porque essa não é a questão,
Essa é a realidade:
TransFormação.

"O amor dos homens"

"...Mas eis comes um pêssego. Teu lábio
Inferior dobra-se sob a polpa, o suco
Escorre pelo teu queixo, cai uma gota no teu seio
E tu te ris. Teu riso
Desagrega os átomos. O espelho pulveriza-se, funde-se o cano de descarga
Quantidades insuspeitadas de estrôncio-90
Acumulam-se nas camadas superiores do banheiro
Só os genes de meus tataranetos poderão dar prova cabal de tua imensa
Radioatividade. Tu te ris, amiga
E me beijas sabendo a pêssego. E eu te amo
De morrer. Interiormente
Procuro afastar meus receios: "Não, ela me ama..."
Digo-me, para me convencer, enquanto sinto
Teus seios despontarem em minhas mãos..."
Trecho de "O amor dos homens" de Vinícius... o de Moraes.

Assentamento

Momento de assentar pensamentos...

COMÉDIA DA VIDA PRIVADA -n°2-

COMÉDIA DA VIDA PÚBLICA –n°2-
.
Aí a gente começa a pensar que já faz parte de outra cultura, afinal de contas, são 7 meses de Barcelona-Europa.
Sim! Tu tens amigos de diferentes nacionalidades, amigos espanhóis, conheces as peculiaridades da cidade, as figuras típicas, utilizas tuas pernas como principal meio de transporte, empacotas tuas compras no supermercado, já tiveste uma chefe catalã louca, acessaste pelo menos 5 vezes o loquo, vais quase toda semana na champagnaria, já falas o español e já podes, com calma, entender o catalão... Até arriscar umas palavrinhas, bem sem querer: Si us plau... ops, saiu!
E na hora de fazer o levantamento final deste pensamento, que até agora te deixou extremamente feliz, aparecem dois pontos básicos da cultura européia que tu não conseguiste internalizar:
1- Ponto Banho: apenas duas vezes por semana
2- Ponto Desodorante: nunca
Sim, porque tu continuas tomando banho todos os dias! E usas, sempre, o desodorante!

Conclusão: tu estás conseguindo conhecer e viver em outra cultura, e ainda bem cheirosinha!
Ô beleza!

COMÉDIA DA VIDA PRIVADA -n°1-

A denúncia da coisa.
.
- O que ele está querendo dizer com isso?
- Não sei... Só sei que vai dar merda...
E o casal segue tranquilo seu passeio.
...
(Foto: Fabi - La Rambla, artista de rua)



A arte dos desencontros


Mas a arte é capaz de imortalizar qualquer um,
Se, dela, esse um se fez viver.
E vive, e continua vivendo,
Porque, se por acaso não fez arte, fez amor.
E esse, não morre jamais dentro dos que ficam.
E quem faz arte, faz amor! Disso bem sabem os artistas.
A arte final é um gozo,
A morte, o gozo final.
Bendito sejam aqueles que se foram
Que gozaram da arte e do amor.
E hoje gozam dos que não sabem,
Nem fazer arte, nem fazer amor!

“É amigo, a vida é a arte do encontro, embora haja tantos desencontros pela vida”(Vinícius de Moraes)
Em homenagem a Lari e Digo que se foram, e com certeza, fizeram muita arte e muito amor.
(Foto: Fabi - Museu Dalí)

COMÉDIA DA VIDA PÚBLICA -n°1-

Os “Guri” do Zaffari

Imagine qualquer “superminimercados” que existem em Barcelona: Carrefour, Mercadona, Dia, Caprabo... Qualquer destes.
A cena:
Um dia lindo de sol ou de chuva e tu, tranqüila, vais fazer tuas compras, sim, tu vais ao supermercado. Compra um pouquinho de tudo, um queijinho pra matar aquela primeira fome da chegada em casa, um leitinho pra manhã, uma aguinha pra noite, yogurt pra hora que não terias que comer, massinhas pra hora que tens que comer, molhinhos e coisinhas pra fazer molhinhos... Ahh sim, e um docinho é fundamental.
Tudo bem, até agora tudo muito tradicional...
A hora de ir pro caixa:
O da frente da fila não fala a mesma língua que tu, o de trás da fila fala outra mais rara, e a caixa provavelmente fala catalão... Mas como viver é aprender, tu, provavelmente, vais entender tudo o que ela fala e, ainda, ao final, vais dizer: "Adeu!" Num bom e correto catalão.
O problema:
Tu começas a passar os produtos pelo caixa... E essa moça, a que fala catalão, passa tudo muito rápido, mas muuuito rápido: massinha, “bibi”... passou - frutinha, “bibi”... passou - aguinha, bibi, passou... – docinho, bibi, passou...
A coisa começa a atingir uma rapidez tão louca que tu já não sabes mais quais compras são tuas e quais são as compras da pessoa que esta na tua frente, que, provavelmente, ainda não conseguiu empacotar tudo, porque a moça que fala catalão já misturou todas...
O “bibi” continua e tu, de uma hora pra outra, não sabes mais pra onde olhar, e começas a empacotar como uma louca (louca mesmo).
O problema é que tu também tens que pagar... E pagar significa o seguinte: que as compras do outro tipo que estava atrás de ti na fila, e que falava a outra língua, começarão a vir por cima das tuas...
Mas, nesse dia, em especial, estava com uma amiga, Mari Deluca, que surtava terminando de empacotar as coisas dela (pq ela estava na minha frente na fila e, consequentemente, as minhas compras estavam em cima das dela). A nossa sorte é que o cara que estava na frente dela tinha comprado bem pouquinho.
(OS: Ta dando pra sentir o sufoco?)
Nesse momento de terror das duas, Deluca, com seus lindos olhos claros, levanta a cabeça, me olha e diz:
- Cadeeeeeee os “guri” do Zaffari!!! Chama um “maaaaano” pra nos ajudar!!!
- Hahahahahahahahahhaha!
Da angústia do empacotar venho, do fundo da alma, uma puta gargalhada, hahahhahahahah!
E desse dia em diante, a gente, frequentemente, pensa neles: os “guri” do Zaffari, os “mano” queridos... Que sempre estão ali pra ajudar, e de quebra, largam umas piadinhas pra dar uma descontraída!
Ahhhhh... Quanta saudade dos “guri” do Zaffari...